O fundo da Gaveta
22 agosto 2006
Pedaço # 015
Sinto que, efectivamente, não tenho qualquer controlo sobre o meu destino; e descubro uma enorme serenidade nesta conclusão; sinto que já não sou um utópico, iludido e obcecado com a possibilidade de controlar a vida e adaptá-la ao mundo que domina os homens que se julgam livres, os homens incapazes de perceber que a liberdade não está em fazer o que se deseja, quando se deseja, como se deseja mas que reside, afinal, na ausência da necessidade de desejar.
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paulo kellerman
Confissão # 013
Não tenho qualquer desejo de viajar; suponho que isso me transforme numa espécie de raridade anómala do século XXI.
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paulo kellerman
Pedaço # 014
Poderei, talvez, visitar as divisões desta casa, percorrer os recantos desta aldeia, e procurar os fantasmas da minha infância; poderia reencontrá-los, um a um, e reconhecer neles os meus sonhos, as minhas ilusões, os meus projectos, os meus objectivos; poderia recolhê-los, recuperá-los, ressuscitá-los; e depois, muito devagarinho: concretizá-los.
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paulo kellerman
Confissão # 012
Antes lia por paixão, com voracidade e prazer. Agora, dou por mim a ler por hábito, por não ter nenhuma alternativa melhor. Não consigo decidir se isto é um sintoma de embrutecimento ou de amadurecimento.
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paulo kellerman
18 agosto 2006
Pedaço # 013
Penso como seria fácil: bastaria prolongar o olhar o tempo suficiente até perceberes o brilho dos meus olhos; nem seria necessário falar, verbalizar o meu desejo; bastaria um certo olhar: e tu perceberias.
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paulo kellerman
Confissão # 011
Mais umas semanas e a minha filha irá para a escola. Dentro de um ano, saberá ler e escrever. Suponho que, logo de seguida, quererá ter o seu primeiro blogue.
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paulo kellerman
Pedaço # 012
Ao longo destes últimos meses fomos aprendendo a desamarmo-nos, trilhando o percurso inverso ao que percorremos no início, regredindo; tentámos reconquistar as nossas individualidades, recuperar os pedaços que cada um cedeu (ou emprestou?) para a construção do nosso amor; pedaços de eu, que formaram um nós. Mas o nós morreu e há que realizar o funeral, enterrar o cadáver bem fundo, para que o cheiro não nos sufoque.
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Confissão # 010
Gostava de ser ainda mais feliz. Não é que me queixe. Mas gostava.
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17 agosto 2006
Confissão # 009
Já me perguntei qual será a quantidade mínima diária de risos e gargalhadas que uma pessoa tem de mostrar para que seja qualificada como uma pessoa feliz. Sete, talvez? Ou estarei a exagerar?
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paulo kellerman
Pedaço # 011
Não sinto o tempo passar, porque não me interessa que ele passe ou não, é-me indiferente; e pergunto-me se não residirá aqui o segredo da imortalidade; ou, pelo contrário, será isto uma forma de morte, permanecendo vivo?
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paulo kellerman
Pedaço # 010
Lá longe, ruídos de carros, mulheres e homens ansiosos por chegarem não sabem bem onde, desvairados pela necessidade intrínseca e inconsciente de estarem em movimento, de não se deixarem apanhar. Fogem, não sabem de quê, não sabem para onde, não sabem porquê; fogem, simplesmente.
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Confissão # 008
Ainda não vi aquele filme que fala do crime do Padre Amaro. Por isso, não sei bem o que está em questão quando se fala de Soraia Chaves.
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Pedaço # 009
Fecho os olhos, apenas para sentir a volúpia dolorosa e decepcionante de voltar a abri-los e perceber que nada mudou, que o tempo não passou (apesar de, realmente, ter passado).
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16 agosto 2006
Confissão # 006
Perante a pergunta “qual é o seu blogue preferido?”, quantas pessoas serão capazes de responder a verdade, dizendo simplesmente “o meu”?
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Pedaço # 008
Vou recuando nas horas, e depois nos dias, tentando recordar a última ocasião em que fiz algo original, em que tive uma atitude ou um gesto ou um pensamento inédito.
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Confissão # 005
Por mais que tente, não consigo recordar o que respondia quando, em criança, me perguntavam o que desejava ser quando crescesse.
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Confissão # 004
Hoje fui à praia, pela primeira vez em muitos anos. Fui e fiquei. Porque há sacrifícios que se fazem para ver um sorriso perfeito no rosto de uma filha.
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11 agosto 2006
Confissão # 003
Tenho saudades, por vezes insuportáveis, de ser criança. Suponho que se trata de uma doença; e que tenha um nome.
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Pedaço # 007
Certamente que os fantasmas da minha infância já partiram, cansados de esperar por mim.
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10 agosto 2006
Pedaço # 006
Pergunto-me o que será feito de ti; pergunto-me se não estarás a olhar por uma qualquer janela, a pensar em mim.
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Confissão # 002
Ainda só li perto de mil livros; até ao momento, nenhum mudou a minha vida por aí além.
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09 agosto 2006
Pedaço # 005
Talvez me peças, num sussurro misturado de beijo: ensina-me a não parar de sorrir.
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Confissão # 001
Quando era criança, rezava para que o Benfica ganhasse os jogos.
Hoje, detesto futebol; e sou ateu. Não sei se há ligação.
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paulo kellerman
Pedaço # 004
Toco-me, para me sentir menos desprotegida, esforçando-me por acreditar que não estou só, que eu sou alguém, e, portanto, acompanho-me. Toco-me, também, para acalmar o corpo, para o serenar, para o saciar. Para o distrair.
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paulo kellerman
Pedaço # 003
Vejo uma nuvenzinha translúcida formar-se junto às tuas pestanas; e sei: é a alma que te abandona.
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paulo kellerman
Pedaço # 002
Ouço-te respirar, sinto o teu corpo tocar-me, aquecer-me, e forço-me a admitir que não te conheço tão profundamente quanto pensava, forço-me a aceitar que também tu terás um mundo íntimo de fantasias e devaneios e segredos. Vivemos juntos: mas em mundos separados.
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Pedaço # 001
Todos os homens têm desejos impossíveis (é por isso que, na verdade, nunca deixam de ser crianças): e alguns deles conseguem realizá-los.
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paulo kellerman
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